Reunião do COPOM de 11/12/2024
Nesta quarta- feira ocorreu a última reunião do COPOM de 2024 e a última com Roberto Campos Neto (RCN) à frente da presidência do Banco Central.
A decisão de aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros foi unânime. Unânime. Isso significa que RCN não é um “porco capitalista que presenteia os ricos e cospe nos pobres”.
Todos os diretores, inclusive os indicados pelo atual governo, acreditam que o ritmo de aumento na taxa SELIC deve ser acelerado.
Inclusive, não pegou todos os operadores do mercado de surpresa que, anteriormente, acreditavam em um aumento de apenas 0,75%.
Vamos dissecar o comunicado e tentar enxergar se os diretores do BACEN nos avisam porque decidiram acelerar o ritmo de aumento e se nos dizem suas expectativas futuras.
Dissecando o comunicado
O IBGE divulgou o PIB do terceiro trimestre de 2024 dia 3 de dezembro (após a reunião de novembro) que indicou uma alta de 0,9%. De acordo com o COPOM, isso indicou abertura adicional de hiato. Em linhas breves, isso significa que o Brasil “produziu” mais do que seu potencial. Isso é bom, certo? Não. Isso significa que a economia está acelerando mais do que sua tendência natural. Mais do que em níveis “saudáveis”. Isso é uma indicação de que, caso continue, as pressões inflacionárias se fortalecerão no futuro.
Logo em seguida, o COPOM nos informa que a inflação atual e as medidas paralelas (Inflação CORE, administrados, e outros) estão acima da meta da inflação, e ainda que recentemente, se elevaram.
Resumindo: a inflação atual está acima da meta. Está acelerando. Medidas que nos dizem sobre seu futuro mostram que crescerão.
Lembro a vocês que a nossa meta para inflação é de 3,0%. Existe uma tolerância de 1,5% para cima e para baixo. Logo, até 4,5% seria aceitável. Mas a meta, é 3,0%.
Eu adoro a forma como os comunicados são escritos. Para mim, são elegantes, discretos e precisos. Percebam a elegância dessa frase e o que ela informa: um cenário menos incerto e mais adverso. Ou seja, enquanto antes, o Comitê tinha dúvidas sobre um futuro que poderia ser melhor, agora o Comitê tem mais certeza que o cenário será pior. Por que? Porque certos riscos possíveis se transformaram em fato. Vamos ver se ele deixa claro qual/quais riscos.
O recado é claro: o COPOM observa o comportamento da nossa política fiscal. E a recente “reforma tributária” afetou negativamente as expectativas dos agentes. E aqui algo importante: tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária – quais impactos? – as expectativas negativas. E não necessariamente os efeitos da “reforma”. Ao longo de todos os comunicados e atas, o COPOM faz questão de mencionar sobre a “ancoragem de expactativas”. Como a seguir:
E por que? Porque nossas decisões de investimento, aporte de capital, troca de câmbio, são baseadas nas expectativas que temos para os resultados das nossas ações no contexto em que agimos. Eu só abro uma fábrica de carros se a minha expectativa é que ela dará lucros. Eu só vendo dólares e compro títulos de dívida pública brasileira se tenho expectativa de que essa dívida será paga, em dia. Todas essas medidas afetam como o dinheiro se movimenta em uma economia, já que, como já dissemos, o dinheiro é um líquido e assume a forma da expectativa dos agentes econômicos.
Mais um adendo: uma combinação de fatores que causaria uma desvalorização do real frente às outras moedas exige uma política ainda mais contracionista. Entre esses fatores, alguns são de curto prazo e outros de longo prazo. Ou seja, os fatores de desvalorização da moeda e inflação estão presentes em múltiplos espectros de tempo.
Eu não sou o dono da verdade. Sou humano e possuo minhas ignorâncias que tento limar com o passar do tempo. Neste trecho, não entendi o que quiseram dizer no trecho onde dizem que fomentam o pleno emprego. Atualmente temos um índice de desemprego baixo, porém ainda não em pleno emprego, e uma política monetária contracionista, tradicionalmente, aumenta o desemprego. Irei pesquisar e informo a vocês quando entender.
Aqui o COPOM diz que nas próximas duas reuniões aumentará a taxa de juros em 1,0% se confirmado o cenário esperado. Duas informações importantes. Primeiro, esperam que o cenário futuro seja de descontrole fiscal e pressões inflacionárias. Segundo, não aumentarão em 1,0% se este cenário não ocorrer. Já conversei com e ouvi diversos analistas e operadores que acreditam que as duas próximas altas são garantidas. Estão “contratadas”. Bem, na minha opinião, não é isso que está escrito.
E mais para o final, dizem uma expressão que aqui no Brasil, é rara: “firme compromisso”. No caso do Banco Central, isso significaria prejudicar certas intenções governamentais ou ver a deterioração de certas medidas macroeconômicas em prol da manutenção do valor da nossa moeda. Caso esse “firme compromisso” seja de fato honrado, será um excelente sinal de credibilidade e segurança da independência do Banco Central, frente às pessões políticas que normalmente sofre. E certamente, um fator positivo para a tão importante ancoragem de expectativas.
E os nossos investimentos?
Tudo isso significa que é possível que mais investidores retirem seu capital de renda variável e corram para títulos pós fixados, ou seja, atrelados de alguma forma ao retorno da taxa SELIC. É possível e é provável.
Isso não significa que devemos fazer cavalos-de-pau nas nossas alocações de capital. Se temos uma boa estratégia de longo prazo, ela certamente sofrerá com volatilidades de curto prazo em algumas de suas partes assim como deve se beneficiar em outras partes.
Todos os nossos Portfolios contém investimentos que são sensíveis à desancoragem de expectativas. Porém, todos os nossos Portfolios contém investimentos que são antifrágeis à essa mesma desancoragem como ações internacionais, títulos pós-fixados e mesmo ações nacionais exportadoras. Além disso, recentemente incluímos ou ampliamos estratégias Macro nos nossos portfolios.
Nosso objetivo é preservar patrimônio e crescer quando possível. Antevendo a possibilidade de juros nacionais a patamares elevados por mais tempo e cenário internacional de maior instabilidade, fizemos essa mudança para uma estratégia que se aproveita de um ambiente internacional volátil e que sofra menos correlação de pressões nacionais.
Mas não podemos nos desfazer das nossas estratégias nacionais. A busca frustante pelo ponto mais baixo do ciclo, pelo vale do vale, pelo alçapão no fundo do poço, é largamente infrutífera. Estamos sim expostos à volatildiade de curto prazo do nosso cenário doméstico, sabendo que o retorno pode não vir por agora, mas que virá se/quando os ciclos se inverterem.
Aliás, algo que me encanta é perceber o discurso das pessoas que se encantam com frases de efeito como “vender ao som dos violinos e comprar ao som dos canhões”. Quando o mercado começa a preparar os sacos de pólvora, ficam desesperadas.
Vivemos hoje um cenário de pessimismo e o poço parece não ter fundo. O túnel parece não ter fim. Compramos ativos com seus gráficos de preço apontando para baixo. E dói. Eu sei que dói porque faço isso há pelos menos 14 anos. Nesses anos, nunca vi o pêndulo pessimismo/otimismo do mercado ficar fixo numa posição por muitos anos. Os ciclos hão de acontecer. Eu e meus clientes estaremos prontos. É isso que almejamos sempre.
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