Reunião do COPOM de 06/11/2024 e eleições americanas
Quarta-feira foi um dia movimentado para quem acompanha o mercado de capitais.
Tivemos dois fatos bastante relevantes: a eleição de Donald Trump e a reunião do COPOM.
É verdade que temos reuniões do COPOM a cada 45 dias…. porém, dada a sensibilidade da nossa atual situação fiscal, essa reunião, mais especificamente, o comunicado após a reunião, ganhou bastante relevância.
Aqui estão as minhas impressões dos eventos. De antemão, não sou um economista de formação, e de forma alguma me ponho como especialista no assunto. Porém, possuo capacidade e tempo para filtrar as informações relevantes e os julgamentos de pessoas que entendem mais que eu, para que assim possa orientar meus clientes da forma mais adequada.
Trump
Trump foi eleito com quase 20% a mais do que o número de delegados que precisava. Isso resultou em uma vantagem de 3 pontos percentuais frente à Kamala Harris no voto popular.
No senado, o partido republicano de Trump tem margem de 8 senadores à frente dos democratas, o que o dá ampla vantagem para legislar.
Nos governos e casas legislativas estaduais, o partido republicano também assumiu vantagem numérica.
Isso significa que Trump, muito provavelmente, terá mais facilidade que no seu primeiro mandato para implementar suas medidas de governo.
Logo, precisamos considerar que muitas de suas propostas poderão ser aprovadas pelo poder legislativo americano e encontrarão apoio em nível estadual.
São muitas as medidas que eu poderia cobrir aqui, mas a principal, certamente a que causou mais ruído/sinal durante seu primeiro mandato foi a imposição de tarifas à importação, especialmente aos produtos chineses.
No Brasil, o impacto foi uma “marolinha”. O câmbio do nosso real em relação ao dólar se manteve relativamente estável no período, dadas as reformas promovidas no período Temer/Bolsonaro (ex-Pandemia), que serviram para aumentar nossa credibilidade internacional e atrair capital externo. Foi um dos períodos de maior ascenção da nossa bolsa na história recente (2017-2020).
Dada nossa trajetória ascendente, fomos até ameaçados de sanções comerciais que eventualmente não se concretizaram.
Porém, considerando atualmente um governo brasileiro aparentemente reticente em fazer reformas estruturantes, e um Trump com amplo poder, será que sairemos ilesos de sanções e das brigas comerciais envolvendo EUA e China?
Uma miríade de cenários é possível.
Para nós, basta entender que a questão cambial será de extrema relevância nos próximos anos.
Se Trump implementar as tarifas que pretende (e não exista nenhuma garantia de que consiga e nem de que não consiga), é difícil determinar qual a direção do câmbio. É possível inferir que haverá volatilidade.
Temos em nosso poder algo que pode amenizar a volatilidade do preço do câmbio que é uma grande quantidade de reservas de dólar. Apesar de ser a maior dos últimos 5 anos, é menor do que no período entre 2017-2019.
Assim sendo, precisamos considerar que parte das tarifas punitivas à importação virão por parte dos EUA, e que embora tenhamos reserva internacional bem constituída, estamos em um cenário doméstico muito diferente do primeiro mandato de Trump.
Vamos então ao cenário doméstico.
Reunião do COPOM 06/11/2024
O COPOM determinou um aumento de meio ponto percentual na nossa taxa básica de juros, a Taxa SELIC.
Isso já era em ampla medida esperado pelo mercado.
O que não era esperado, pelas entrevistas e informações que vi, foi o rigor do comunicado.
Além do COPOM ter usado palvras duras para descrever o contexto do aumento de juros, esse COPOM é em ampla medida apontado por governos do PT. Inclusive, essa foi a primeira reunião após indicação de Gabriel Galípolo para presidência do Banco Central. Ainda sim, a decisão para aumento da Taxa Selic foi unânime.
Vamos pinçar algumas frases do comunicado:
“O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”
Aqui, cautela significa aperto monetário, menos concessão de crédito, resguardo de reservas monetárias, política não-expansionista de gastos públicos.
“Em relação ao cenário doméstico,[…]A inflação cheia e as medidas subjacentes se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.”
“A projeção de inflação do Copom para o segundo trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,6% no cenário de referência..”
“O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação.”
Percebemos que o COPOM não vê uma convergência da inflação para a meta em 2025, e sim em 2026. Ou seja, se o comitê quiser cumprir seu papel que é manter a inflação sob controle e trazê-la para a meta ainda em 2025, o cenário doméstico atual é insuficiente para fazê-lo.
“Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;…”
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”
Ou seja, o comitê aqui infere que a atual política fiscal não é crível e não está comprometida com a sustentabilidade da dívida, em algum nível.
“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de aperto monetário serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta ….
Aqui um adendo específico. De acordo com José Marcio Camargo, economista chefe da Genial e super experiente participante dos certames da nossa economia, o termo “aperto monetário” raramente é usado. Isso pode significar que o Banco Central usará com ainda mais força outros mecanismos de contração econômica, se for assim necessário, para trazer a inflação para a meta de 3,0% ao ano.
Fica claro, na minha avaliação, que o COPOM precisará ser convencido do nosso compromisso fiscal, por algo além dos “pentes-finos” de Fernando Haddad. Com a resistência que já se cria em alguns setores do governo, o cenário é menos que animador.
Dado este cenário, essas são as orientações e providências que tomarei com meus clientes e que recomendo a todas as pessoas:
Dólar
Revisem suas posições dolarizadas nas suas carteiras de investimentos. Lembrem-se que alguns investimentos alocam capital no exterior, ou na bolsa americana por exemplo, mas o patrimônio é câmbio neutro. Ou seja, a variação do câmbio é neutralizada. Isso significa que caso o preço do dólar em relação ao real dispare, mesmo esses investimentos tendo uma roupagem de serem internacionais, não protegem seu patrimônio do risco cambial.
Macro
Revisem suas posições macro. Alguns fundos de investimento possuem estratégias macro, de negociação de cestas cambiais ou/e de dívidas internacionais. Alguns são alavancados, outros não. Alguns possuem até ex-diretores do Banco Central em sua composição. Outros apenas compram cestas gerais de produtos para acompanhar algum índice macroeconômico porém são mais baratos.
Financiamentos
O sangue que irriga as veias dos financiamentos imobiliários vem da poupança, que possui cada vez menos disponibilidade de capital. Causando inclusive instabilidade no provimento de novos financiamentos.
A falta de recursos para a Caixa Econômica poderá acarretar um aumento da procura por financiamento via outros bancos e outras modalidades. Isso aumenta a demanda por crédito privado que, aliada ao aumento da taxa SELIC, jogará as taxas de financiamento imobiliário para cima. Sendo assim, a não ser que você encontre condições muito vantajosas, reveja a necessidade de comprar algum imóvel por agora.
Toda semana receba o Relatório RP com táticas para você aplicar na sua viagem rumo à independência financeira.
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