Resumão: A Lógica do Cisne Negro
Se você não está muito afim de enfrentar as mais de 500 páginas de um livro onde o autor mistura teoria, filosofia, narrativas, referências a termos da cultura do século XIX no Oriente Médio e xingamentos gratuitos às mais diversas pessoas e profissões em geral, e ainda sim quer saber do que se trata um dos livros mais comentados e menos entendidos dos últimos tempos, siga lendo.
O livro A Lógica do Cisne Negro gira ao redor de dois fatores que serão essenciais para o entendimento de toda a teoria:
- Cisnes Negros são imprevisíveis, agudos e podem ser explicados retroativamente;
- O origem dos Cisnes Negros, em sua maioria, são riscos que foram ocultados de algum jeito.
Entendendo essas duas ideias, você entenderá Pareto ao quadrado. Os 20% dos 20%, que representa os 80% dos 80%, ou seja, os 4% que entregam os 64% mais importantes.
A primeira ideia é que Cisnes Negros são muito específicos.
São imprevisíveis. Se existe alguma maneira de prever, não é um Cisne Negro. Por exemplo, a morte de Sílvio Santos não foi imprevisível. Ele já tinha saído da frente das câmeras e já existiam comentários sobre seu estado de saúde deteriorado. Porém, o sequestro de sua filha foi imprevisível. Trazendo para um exemplo mais econômico, nossa atual situação fiscal não foi imprevisível. Um cenário de disputas ideológicas no país, aumento da predominância de políticas sociais no mundo e vitória de um governo de esquerda, causaria um aumento nas despesas públicas.
São agudos. Causam transformações profundas. O atentado terrorista às Torres Gêmeas mudou profundamente a maneira como a segurança nos aeroportos é feita. A internet trouxe mudanças profundas para como a espécie humana se comunica (o que foi um dos principais motivos da nossa hegemonia planetária). A Peste Negra matou de 25 a 75 milhões de pessoas, encerrando diversas árvores genealógicas. Já a tecnologia de realidade aumentada, não causou transformações tão profundas. Nem a pulseira que melhora o equilíbrio.
São explicados em retrospecto. Qualquer pessoa tem explicações perfeitamente lógicas e aparentemente óbvias para a morte de Senna, para a Covid-19, para o naufrágio do Titanic, para ascenção de Hitler e outros acontecimentos que, para quem estava inserido na época, eram impossíveis de ser conhecidos. Talvez você tenha lido estes acontecimentos e esteja pensando: “Ora, mas X era óbvio porque Y.” Depois que acontece, é fácil se explicar, é fácil se iludir e acreditar que era só alguém ter um pouco de bom senso para perceber o óbvio.
A segunda ideia é que nós mesmos criamos as condições para o nascimento dos Cisnes Negros.
Fazemos isso de diversas formas diferentes. E todas estão, de alguma forma relacionada com nossa incompreensão da realidade. Nossa incapacidade de entender e atingir a verdade. E em algumas situações, nossa preguiça intelectual. Por exemplo, adoramos estórias. Adoramos coisas simples e reduzidas. Então se existe uma situação complexa, difícil de ser entendida, é normal e comum que tenhamos dúvidas. Mas pulamos na primeira oportunidade que nos aparece de reduzir essa situação complexa a uma pequena e simples estória.
A crise imobiliária de 2007 nos EUA foi fruto de uma teia complexa e complicada de produtos financeiros dentro de produtos financeiros que diluíam riscos a cada nível de profundidade. Eram diferentes produtos, com diferentes características, um dentro do outro. Na época, as pessoas e os vendedores destes produtos tinham à mão estórias simples para explicar porque não era arriscado, porque era seguro, porque era rentável. Pouquíssimas pessoas, que não se contentaram com essas explicações simples e investigaram a fundo a situação, conseguiram ver o que realmente estava acontecendo. Assim como alguns especialistas do FBI, insatisfeitos e não convencidos com a recente libertação do Afeganistão, emitiram relatórios sobre a ascenção do Talibã, no fim dos anos 2000.
No fim das contas, tudo é complexo.
Temos inúmeras teias de relacionamento e sistemas que se interconectam e que se afetam de maneiras que são vastamente desconhecidas para nós. E ainda acreditamos no tal do “o dólar subiu porque X” e no dia seguinte, quando X acontece de novo e o dólar cai…. aí….bem, aí …realização de lucros, ou o mercado já esperava….
E como prever Cisnes Negros? E como neutralizar os efeitos dos Cisnes Negros? E como se preparar para o próximo Cisne Negro?
Pela definição, são imprevisíveis, ineutralizáveis e indefensáveis.
Porém, podemos transformá-los em Cisnes Cinzentos, de duas formas.
1- Ineficiência. Sim. Não ser eficiente. Acredite, você já é ineficiente em diversos campos da sua vida. Se você trabalha no meio marítimo, sabe que os navios carregam coletes salva vidas e balsas. Peso morto se o navio não estiver afundando. Como o navio passa a maior parte do seu tempo não-afundado, isso é uma clara ineficiência. `Porém 100% eficaz se o navio afunda. O pneu estepe do seu carro, é um pneu que você carrega para cima e para baixo. Sem você usá-lo. E ele está ali para você não usá-lo. Isso que é uma boa ineficiência. Isso se resume a seguros. Seguros são ineficientes. Eles servem para não serem usados. Porém um bom seguro consegue te proteger e aumentar o seu retorno, aumentar a sua eficácia, caso seja usado.
Por exemplo, muitos de nós somos preocupados com seguro de vida. Mas e em caso de perda permanente da capacidade de trabalho? E se você for acometido(a) de uma doença que não cause morte mas que demande cuidados intensos por parte de outras pessoas? A renda da família ficaria reduzida e as despesas aumentariam. Isso seria um Cisne Negro, mas que pode ser transformado em Cinzento, caso você tenha um seguro por invalidez. Estará não só reduzindo o grau de consequência para os seus entes como também se defendendo de um risco não calculável.
2- Por que? Telekid era um dos personagens do Marcelo Tas no Castelo Ra-Tim-Bum. Ele entrava em cena quando alguém respondia “Porque sim” ou “Porque não”. “Porque sim, não é resposta”. Você não é uma pessoa burra ou ignorante se não souber alguma coisa. “Eu não sei” não está proibido. Não se contente com respostas vagas, ou histórias bem contadas, que na verdade não respondem à pergunta. Essas respostas rasas escondem riscos e não raramente elas são formuladas PARA esconder riscos.
“Como funciona um radar?” “Ah tem uma válvula lá, Magnetron”. Tem uma válvula lá, não é resposta.
“Como funciona um COE?” “Ah, o assessor falou que são várias operações. É garantido.” É garantido, não é resposta.
“Como funciona o Bitcoin?” “Ah só sei que tá subindo.” Só sei que tá subindo, não é como funciona o Bitcoin.
Enquanto você não tiver uma resposta que abarque a complexidade do tema em seu escopo mais amplo, não se contente com meias respostas. Elas normalmente escondem os riscos e aumentam a imprevisibilidade e a severidade dos Cisnes Negros.
Como consultor de investimentos, eu preciso não me contentar com meias respostas. Eu sou atrasado para recomendar certos investimentos para os meus clientes porque preciso entender como aquilo funciona. Um exemplo foram as criptomoedas que demoramos muito a começar a recomendar e ainda o fazemos de forma muito conservadora. Eu não perco nenhum segundo de sono, sabendo que meus clientes estão “deixando de ganhar mais” com criptomoedas. Mas não durmo se perceber que estamos alocando capital em algo que não entendemos e que por isso, estamos expostos de forma desproporcional a Cisnes Negros.
Isso não nos blinda de forma alguma.
Mas temos mecanismos para deixá-los mais cinzas.
Temos hoje alguns investimentos que, apesar do mau humor do mercado e do pessimismo, tem subido de preço, em uma correlação negativa quase perfeita com o mercado nacional.
Pensem onde vocês podem estar se expondo a riscos escondidos por não entenderem o funcionamento de algo que utilizem, e pensem onde vocês podem adicionar mais seguros, mesmo que isso traga alguma ineficiência.
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