A oportunidade não é o que você pensa
Um dos educadores financeiros mais antigos e influentes do nosso país, o Bastter, diz que não existe só uma manada. Quando o pânico ou a euforia tomam conta, as pessoas sim se comportam como uma manada. Todas fazem o que as outras estão fazendo.
Mas essa é a manada 1.
Existe uma outra manada, que é a que olha pro outro lado. Quando o pânico toma conta da maioria, algumas pessoas entoam “Oportunidade? Oportunidade?”. Essas pessoas, na maioria das vezes, não entendem muito bem o que está acontecendo. Mas, viram o gráfico pra baixo. Viram o número vermelho. Talvez ouviram um ou outro “Oportunidade!” da boca de alguma pessoa.
Então nasce a manada 2. Tão cega e iludida quanto a manada 1.
O comportamento de manada não é definido pelo mérito da ação e sim pela sua natureza.
Quando as hienas provocam o estouro dos gnus que coloca Simba em perigo, a manada foge. Não importa se corriam risco ou se não corriam risco. Não importa se foi uma boa decisão ou má decisão. Só importa se o gnu mais próximo está pastando ou correndo.
Só importa se eu estou fazendo parte do grupo.
A nossa necessidade de fazer parte de um grupo nos engana.
Nos desorienta.
Nos ilude.
“Raphael, mas tá tudo caindo!!! É oportunidade ou não é???”
Vou te explicar porque, para você que é uma pessoa física, oportunidade no mercado pode não ser o que você pensa.
Para os investidores de varejo, a palavra “oportunidade” está associada a ganhar muito dinheiro. De preferência rápido, por favor. É acertar a bunda da mosca. E multiplicar o capital por 1.000, 10.000 vezes.
Essa é uma grande ilusão que foi vendida por influenciadores e vendedores. Também foi criada pelos próprios investidores e pela sua falta de capacidade de discernimento.
Quando um gestor de fundos profissional, que é tido como muito bem sucedido, fala sobre uma ação que ele comprou por 1 centavo e vendeu por 100 dólares, ele não menciona:
- as que ele comprou por 100 dólares e vendeu por 1 centavo;
- as que ele comprou por 100 dólares e vendeu por 100 dólares;
- as que ele comprou por 1 centavo e vendeu por 2 centavos;
- o que acontece com a maioria dos gestores que seguem comprando ações de 100 dólares e vendendo por 50 centavos.
Nós gostamos de pontos fora da curva. Mas não sabemos se o fato do ponto estar lá, se deve a mérito ou a sorte. A tal oportunidade.
Um caso emblemático é o do Alaska. E aqui, o assunto não é o mérito do gestor e sim a percepção do público.
Estávamos em 2019. Henrique Breda, gestor do fundo Alaska, era um nome muito popular então por ter trazido ao seu fundo, Alaska Black, retornos expressivos. Isso graças a sua visão e sua capacidade de análise superior de uma empresa especial. Na época, Magazine Luíza e Luíza Trajano eram os novos heróis do Brasil. Depois de períodos turbulentos, aumentaram e muito sua capacidade de gerar lucros, e o fundo Alaska Black navegou bem essa onda.
A linha azul marca a performance do fundo Alaska Black, e a linha amarela marca a performance do índice de ações brasileiras IBRX
Henrique Bredda muito possivelmente tem muitos méritos nessa onda positiva do Alaska Black. Possivelmente.
Aqui está o histórico recente do fundo:
A questão aqui não é se Henrique Bredda é ou não é um bom gestor.
A questão aqui é a busca pela grande oportunidade.
Veja como se comportou o patrimônio do fundo ao longo dos anos:
A valorização da cota, de 2017 até 2020 foi de aproximadamente 200%. Nada mal.
Já o patrimônio foi de menos de 500 milhões para 3,7 bilhões de reais. Essa é uma valorização de mais de 600%.
A busca pela “oportunidade” pode unificar as manadas. E esse é o risco: não pensar por si. Não ter um guia ao seu lado. Seguir cegamente.
Estar na manada é estar cercado. Quando estamos cercados não enxergamos nada além dos outros gnus.
Não enxergamos nem as hienas, nem o Simba, nem o Mufasa, nem o que realmente importa.
Ficamos cegos.
A hora da virada.
A próxima Amazon.
Surfar a onda do Bitcoin.
A oportunidade de uma vida.
Não deixar dinheiro na mesa.
A real oportunidade para a pessoa física é a consistência.
Sylvia Bloom, na ocasião de sua morte deixou um patrimônio de 9 milhões de dólares para ser doado entre algumas instituições de ensino que ela apoiava e poucos familiares.
Ela não deu a grande tacada.
Sylvia era secretária de um escritório de advocacia. Seu salário era modesto. Absolutamente ninguém da sua família (com exceção de seu marido) sabia da sua fortuna.
Qual o segredo?
Vida muito frugal, orientação indireta de pessoas que entendiam mais que ela sobre mercado, aporte sempre que recebia seu pagamento, por 68 anos.
Não deixe essa oportunidade passar.
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